segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Abre-te, Ruínas!

Logo quando o sol nasceu Carvalho acordou. Tomou seu café. Deu um beijo na esposa e na filha e saiu pro trabalho. Cara de sono e mente vazia, irritação em saber que mais um dia começara na semana. Ele sempre pega o mesmo ônibus lotado. Muita gente disposta, outras não. Uma imensa mistura de perfumes e odores no coletivo. Carvalho analisa o vai e vem das casas no caminho. Ruas, pessoas, lojas fechadas. A feira é a pior parte. Mau cheiro! Animais vivos misturam-se com os mortos. Bêbados da noite, enojando as pessoas despertadas e ativas. Almeja em descer do ônibus e sentir o ar matinal. Caminhar e esticar as pernas. Quase fecha os olhos por um instante. Gente falando, gargalhando, muitos abrindo a boca em demonstração de sono e cansaço do dia anterior, um domingo. Alguém com cheiro de cigarro barato. Carvalho não gosta daquilo. “Eu devia comprar um carro, até mesmo uma moto que é mais econômico” fala em voz baixa. Só pensa na chegada, onde tudo aquilo passa temporariamente. Pensa na vida, na sua filha. Bons pensamentos fluem, e, esquece por minutos todo aquele embaraço mútuo. Todo mundo é igual no ônibus, mais ainda se lotado. Aperto e às vezes constrangimento. Uma mulher grávida cedeu lugar a outra com criança de colo. Idosos não têm vez. Certos valores desaparecem. Ética, respeito, educação por exemplo. Amoralidade! Finalmente o ônibus chega onde Carvalho vai descer. Ele desce, vai a uma barraca e pede uma água de coco.

3 comentários:

ANDERSON MENEZES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ANDERSON MENEZES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ANDERSON MENEZES disse...

louca história é a real da maioria dos brasileiros,lotação cotidiano barulhento metrô e retrô dos pensamentos de mudança e tal inesperado do final imaginei um café ou uma cachaça, irônico