terça-feira, 14 de outubro de 2008

Crustáceo Oprimido

Depois do susto ele teve uma má impressão da ciranda que o acompanhou. Dizia respeitar os idosos, mas se pudesse cuspia na cara deles. Um dia ele parou e pensou em toda sua vida. Pensou no dia-a-dia, nas suas situações. Sua família, único forte. Viu que era uma pessoa errada. Tinha ciência do certo, mas isso era intocável. Não gostava de sair, nem de sorrir, nem de cantar, muito menos de sentir as coisas puramente como elas são. Sempre se queixando do tempo, do barulho da cidade, das pessoas que sorriam, dos animais que brincavam. Fez uma autocrítica e quase chorou. Não sabia onde conseguir o reparo da sua vida. E nem queria. Andava na rua, sempre com um destino. Nunca gostou de esportes. Seus pais não o conheciam direito. Se mostrava um cara comum. Na escola foi ausente. Sequer teve namorada, nem amigos. Não gostava de negros nem de homossexuais. Odiava crianças. Nunca foi comum. Às vezes se achava superior, mesmo sem o conceito de certas realidades. Deixava tudo pra depois e seus pais o chamavam de preguiçoso. Pra ele era um imenso prazer ficar deitado só pensando em disparates. Pluralidade infiel. Longe e sem lugar, frases soam em sua mente imatura. Boas-Vindas! Sua presença é sempre uma alegria. Baldes e colheres na sua imaginação. Anúncios luminosos. Olhava-se no espelho e via um nojento escroto! Achava a ciranda irritante e inconveniente. Sempre foi burro

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